Uma intervenção pedindo liberdade para os presos políticos em Angola levantou hoje a quase totalidade delegados presentes no arranque do segundo dia da X Convenção do Bloco de Esquerda (BE), em Lisboa.
O tema foi trazido à reunião magna bloquista por Jorge Silva, activista pelos direitos dos imigrantes e representante do Bloco Democrático de Angola em Portugal.
No final da sua intervenção, de cerca de quatro minutos, os presentes no pavilhão do Casal Vistoso levantaram-se e gritaram: “Liberdade já”.
O delegado referia-se ao caso dos 17 jovens activistas presos em Luanda desde Junho de 2015 e entretanto condenados até oito anos e meio de prisão por supostos e nunca provados actos preparatórios para uma rebelião e associação de malfeitores, penas que começaram a cumprir em Março desde ano, apesar dos recursos da defesa.
Recorde-se que o activista Sedrick de Carvalho, um dos presos políticos que se encontram encarcerados, “ilegal e injustamente acusados de tentativa de golpe de Estado pelo regime angolano”, escreveu em Janeiro deste ano uma carta endereçada ao Bloco de Esquerda de “agradecimentos profundos” por todo o apoio.
O Bloco de Esquerda é o único partido português que não se rendeu ao poder ditatorial do regime de sua majestade o rei José Eduardo dos Santos, tendo estado sempre na primeira linha do combate pelas liberdades e garantias que não existem no nosso país.
Numa missiva datada de 24 de Janeiro, Sedrick de Carvalho revela que foi privado do acesso a notícias e que o processo judicial demonstra a “inexistência de democracia” em Angola.
A carta enviada ao Bloco de Esquerda tem como assunto: “agradecimentos profundos” e “saudações especiais, do fundo do coração!”. O jornalista Sedrick de Carvalho agradece todo o apoio do Bloco durante a fase mais crítica da prisão, “na esperança de ver os Direitos Humanos respeitados e a Democracia implementada”. “Falo apenas por mim, mas sei que a gratidão é colectiva”, acrescenta ainda.
Recorde-se que no dia 3 de Julho de 2015, o Bloco e o deputado do PS Pedro Delgado Alves ficaram sozinhos, no Parlamento português, na condenação da “repressão política em Angola” e no apelo ao fim da detenção do grupo de jovens opositores do regime. Este voto, discutido ainda no tempo do anterior governo de direita, teve a oposição do PSD, PS, CDS, PCP e Verdes.
Entretanto, no passado dia 8 de Janeiro, o PSD, CDS-PP e PCP rejeitaram novamente um novo voto de condenação apresentado pelo Bloco de Esquerda sobre a situação da “repressão em Angola” e que continha um apelo à libertação dos “activistas detidos”. Esta iniciativa teve a abstenção dos Verdes e do PS, com a excepção de sete deputados socialistas (Alexandre Quintanilha, Isabel Moreira, Inês de Medeiros, Isabel Santos, Pedro Delgado Alves, Tiago Barbosa Ribeiro e Wanda Guimarães), e do PAN que também votou a favor.
Eis e teor da carta enviada ao Bloco de Esquerda:
“O meu nome é Sedrick de Carvalho. Sou, infelizmente, um dos 15 presos políticos que se encontram encarcerado desde 20 de Junho de 2015, ilegal e injustamente acusados de tentativa de golpe de Estado pelo regime angolano, o mesmo vigente desde 1975. E digo “infelizmente” pelo facto de existir tal “categoria” de preso no meu país, Angola, o que demonstra, e muito bem, a inexistência de Democracia nesta parcela do mundo. Não há dúvidas disso!
Por esta carta venho agradecer por todo apoio prestado pelo Bloco de Esquerda durante a fase mais crítica da nossa prisão, e que continua e continuará a prestar, acredito, tudo isto em prol da nossa libertação e, certamente, na esperança de ver os Direitos Humanos respeitados e a Democracia implementada. Falo apenas por mim, mas sei que a gratidão é colectiva.
Ao longo dos seis meses em regime fechado, não nos foi permitido (pelo menos eu e os seis companheiros que estiveram comigo na prisão Calomboloca) assistir, ler e ouvir órgãos de informações – excepto ler o Jornal de Angola, caixa de ressonância do Governo.
Digo isto para realçar que só em casa, agora em prisão domiciliar, está a ser possível perceber a gigantesca onda de solidariedade proveniente de Portugal, inclusive ao nível político – claro que é da parte do Vosso Partido, só podia. Muito obrigado!
Enquanto nos chegavam relatos de esforços “titânicos” pedindo “Liberdade Já”, passou a ser indispensável a realização de uma conferência de imprensa conjunta para agradecemos pelo apoio interno e externo. Mas, por enquanto, não é possível.
Para terminar, aproveito desejar tudo de bom para o Novo Ano. Que o Bloco de Esquerda permaneça sólido, inovador e sempre democrático.”